Pois é, sigo pesquisando e discutindo algumas coisas com algumas pessoas, geralmente de mente aberta.
Um pouco de História
Lá no passado distante, por volta de 1870 mais precisamente a palavra woodcraft teve sua primeira aplicação registrada um tempo depois da guerra civil americana.
O conceito não era novidade nenhuma, mas sua nomenclatura ajudava a normatizar um método eficiente para o estudo militar, como matéria, ou melhor, como especialidade para os soldados.
Woodcraft é a nomenclatura usada no passado para a arte de adentrar uma região inóspita e se manter por lá. A diferença com algumas idéias de bushcraft é pouca, mas nos poucos pontos que destoam fazem toda a diferença. Woodcraft prevê uma estadia mais prolongada e quase definitiva em ambientes selvagens e hostis, logo o fator tempo é um diferencial imperioso.
Talvez seja estranho imaginar um mundo sem eletricidade, ou telefone, mas tente por um momento imaginar como seria o abastecimento de uma tropa em território hostil nesta época, ou como se viravam os desbravadores, bravos camponeses que com suas carroças, armas, filhos e animais adentravam em áreas nunca antes exploradas.
Pois bem, antes do clássico SERE americano -1953- ( Survival, Evasion, Resistance, and Escape) a matéria estudada era o woodcraft!
Pois bem, acompanho mais ou menos isento algumas postagens de ótimos chefes escoteiros que simplesmente não engolem o termo “bushcraft”, estes caras, assim como eu cresceram fazendo os 4 prédios básicos de um acampamento, cozinha, intendência, canto do lenhador e latrina, e ao verem toda a simplicidade minimalista do bushcraft percebem a ineficácia do modelo para atender a criançada toda da tropa. Mas isso caros chefes tem um motivo, a metodologia escoteira segue o modelo do woodcraft, sendo que o Grande Chefe Robert Stephenson Smyth Baden-Powell literalmente aprendeu com o Frederick Russell Burnham.
A primeira compilação de material usando esta terminologia foi militar, e de fato o escotismo de BP era altamente militarizado. Ele não se tornou herói por acaso.
Sob seu comando, sempre na vanguarda das batalhas, sua bem treinada tropa adentrava território hostil, se instalava e desencadeava o inferno nos inimigos, a terminologia “Scout” da uma boa noção das estratégias de BP. Ele era mestre em táticas de guerrilha, embuste e combate assimétrico.
Batedores, ou exploradores, desbravadores (!) estas sim são traduções dignas para o que BP criou.
Os homens sem helicópteros ou linhas de suprimento seguras, se instalavam no meio das florestas e matas, e como os desbravadores de antigamente, operavam deste ponto mantendo-se da terra com relativo conforto. Isso meus amigos escoteiros explica a caixa de patrulha e as ferramentas pesadas de “tropa”.
Voltando ao woodcraft e ao ano de 1935.
Época tensa, os tambores de guerra rugiam ferozes, exércitos do mundo todo viviam em alerta e a população tinha medo. Haviam ainda muitos resquícios de conhecimento, principalmente herdados do Oeste americano e das colonias europeias espalhadas pelo mundo. Haviam velhos que assistiram ao vivo a criação de cidades e comunidades a partir do zero, e foram estes velhos que criaram o sobrevivencialismo (survivalism) para proteger suas famílias e posses, nesta época o termo woodcraft era bem famoso entre civis, mas era um termo de jargão milico e passou a ser por alguns anos sinônimo de sobrevivencialismo, até que após a segunda guerra, com incentivos governamentais de alguns países como UK, Suíça, França e EUA o nome sobrevivencialismo emplacou sobre o woodcraft.
O nome emplacou, mas o conceito é o mesmo, óbvio, com suas devidas proporções tecnológicas e o delay de tempo.
Daniel Boone
O célebre Daniel Boone, aclamado herói que teve eu auge no país la pelos anos 70-80 mas que viveu lá pra 1700 e alguma coisa, mostra um pouco do comportamento da época do woodcraft. Cabanas de madeira rústica, carroças, pequenas plantações de subsistência, e um também pequeno numero de animais, tudo ali era perene demais pra ser um simples acampamento mas também dava a impressão que estava pronto para ser colocado em uma carroça e partir.
Eu não pretendo com meu texto criar uma nova moda, muito menos rixa ou discussões a cerca de quem é o pai ou a mãe de determinada técnica ou nomenclatura, por ser escoteiro E sobrevivencialista, estudando os dois temas e suas histórias encontrei o woodcraft como fator de ligação e uma possível explicação para minha teoria de que o escotismo pode ser sim uma baita escola pra aprender muito do que se faz hoje no sobrevivencialismo.
Permacultura
Em minhas pesquisas, e eu posso estar errado, o termo woodcraft é, hoje em dia, mais correlatado com a permacultura clássica que com qualquer outra prática derivada, pois, seu fundamento prático era o estabelecimento por longo período de tempo, inclusive permanente, em uma área exclusivamente selvagem, ou de natureza intocada com o máximo de integração.
O escotismo carregou muito desta herança, com suas práticas normatizadas, especialidades e níveis de aprendizado, que levavam o jovem a uma especie de auto suficiência mateira, técnicas pensadas para suportar largos períodos de tempo, aspectos físicos, de saúde, higiene e conduta em grupo. A normatização de condutas mateiras também é um colossal diferencial entre o escotismo e o bushcraft, bem menos hoje em dia graças ao pouco carinho que a União trata o tema mato. BP deve estar se revirando no tumulo.
O sobrevivencialismo também segue o barco da modernidade, este de forma escrachada, e vai assimilando tudo que encontra de util, tecnologia, primitivismo, armas hi-tec etc, seja lá o que for útil em algum momento e que caiba nos planos de sobrevivência de alguém. O ponto de ligação com o woodcraft ficou bem lá no passado, embora eu vi a terminologia sendo resgatada por alguns autores de livros, blogueiros e até grandes canais que estudam como as pessoas viviam na época pré eletricidade.
Pesquisa no google é sofrivel, woodcraft atualmente esta relacionado com marcenaria artística, mas se você meu amigo encontrar algum material, seja legal e compartilhe comigo, tenho muito interesse am aprender e pesquisar mais este tema.
Ufa, esta foi longa, Abraços.
Como sempre ótimo conteúdo
Aplicando o conceito para terras tupiniqins as bandeiras, saindo de São Paulo, em direção ao sertão, também utilizavam de algumas técnicas, interessantes, tendo a alimentação a base de caça, abóbora, milho e mandioca, paravam durante um período onde plantavão esses alimentos e enquanto aguardavam a colheita, exploravão a região em busca de minérios e só depois da colheita avançavam para o interior novamente.